13 de julho de 2010

A Tenda Vermelha


“A grande mãe a quem chamamos Innana é uma guerreira feroz e dama de honra da Morte. A grande mãe a quem chamamos Innana é o centro do prazer, é quem faz os homens e mulheres procurarem-se uns aos outros no meio da noite.  A grande mãe a quem chamamos Innana é a rainha do oceano e a padroeira da chuva. Isto é sabido por todos, mulheres e homens. Crianças de colo e avós enfraquecidos.

A grande mãe a quem chamamos Innana concedeu às mulheres uma dádiva que os homens desconhecem, que é o segredo do sangue. O fluxo da escuridão da lua, o sangue benéfico do nascimento da lua, para os homens é vazamento e incômodo, aborrecimento e dor. Eles acham que sofremos e consideram-se afortunados. Nós os deixamos pensar assim.

Na tenda vermelha, sabemos qual é a verdade. Na tenda vermelha, onde os dias passam como as águas de um riacho tranquilo enquanto a dádiva de Innana passa através de nós, limpando o corpo da morte do mês anterior, preparando o corpo para receber a vida do novo mês. Na tenda vermelha, as mulheres dão graças pelo repouso e pela recuperação, por saber que a vida vem de dentro de nós, surge entre as nossas pernas, e de que a vida custa sangue.

Você se tornará mulher rodeada de  mãos amorosas que vão conduzí-la, vão recolher o seu primeiro sangue e incubirem-se de fazê-lo voltar para o ventre de Innana, para o pó de que foram feitos o primeiro homem e a primeira mulher.

O pó que foi misturado ao sangue da lua que flui de Innana. Infelizmente, muitas das filhas dela esqueceram-se do segredo da dádiva de Innana. [...] Muitas jovens são fechadas nos dias escuros da lua nova, sem vinho nem o conselho das mães. Não celebram o primeiro sangue daquelas que carregarão vida dentro de si, nem o levam de volta à terra.”



Palavras do livro A Tenda Vermelha, de Anita Diamant. Linda publicação que traz mensagens sobre o Sagrado Feminino em uma ficção contada em torno da vida de Dinah, filha de Lia (da família de Labão e Ada) e de Jacó (filho de Isaac e Rebeca) e tantas mulheres citadas na Bíblia no livro de Genesis, como Lia, Raquel, Bilah, Zilpaht e Rebeca.

A leitura nos faz revisitar o colo da Grande Mãe e explica, vibrando em nós o poder e a ternura que há em ser mulher. Da magia e da mistura que há em nós: curandeira, mãe, esposa, filha, irmã, parteira, feiticeira, guerreira, deusa, criança e sábia. Das facetas do lado humano que abafa o ser divino. Dos amores que fazemos adormecer, preocupadas com as condições de sermos julgadas.

A Tenda Vermelha era o lugar onde as mulheres ficavam em seus círculos femininos. Ali doavam à terra seu poder de criação e compartilhavam com almas femininas seus receios, seus amores, suas ternuras. Falavam sobre os caminhos da família e, principalmente, da importância dos círculos sagrados femininos. Na simplicidade e naturalidade de ser mulher usavam seu poder para o bem maior de toda comunidade. Não importavam as diferenças fora tenda. Naqueles dias, onde a oferenda à Lua Nova era o ato sagrado, todas eram irmãs e filhas da Grande Mãe.

As palavras remontam os círculos femininos, as andanças da existência e o amor, a eternidade e as verdades que nos circundam. Os ensinamentos que a lua nos traz, não apenas na morte e na vida que há em cada lua sombria quando menstruamos. Os rituais sagrados que acontecem em nosso Templo e não percebemos. Ao sentir que a vida está em nós, o toque sagrado com a natureza e a canção do Universo fica mais evidente para os olhos humanos quando sentimos a canção sagrada no vento, no ar, no olhar, no cheiro, no falar, no escutar, nas árvores, na mulher, no homem, no choro e no riso.

Quantas tendas vermelhas já foram edificadas por nossas mãos e não percebemos? Em quantos círculos estivemos curando e sendo curadas! O dom sagrado da criação que vive em nós é forte, verdadeiro e evidente. Quanto amor escondemos de nós mesmas?

Vamos, então, cirandar a vida, o amor, o afeto e construir novo mundo dentro e fora de nosso Templo Sagrado.

Em gratidão por tão lindo aprendizado.

Quando é natural, é verdadeiro!
Flores, Luz e Vontade ao Bem!

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